Em 1879 Dostoiévski recomendava: evite toda a mentira, particularmente a mentira para consigo mesmo. Então não fantasiemos. As tecnologias vieram para ficar. Melhor dizendo, vieram para mudar o modo de pensar, agir e se relacionar.
A tecnologia tem o poder de fazer muitas coisas e transformar o mundo tem sido uma delas, isso é inegável. Se em 1821, época do nascimento deste grande escritor, podíamos esperar viver em média menos de 35 anos, atualmente a esperança de vida mais que duplicou.
Caro leitor, é fácil verificar que estes avanços se devem primariamente ao início da revolução industrial, à tecnologia em si e a consecutiva transição para a era da globalização.
Em 1820 menos de 20% da população sabia ler e escrever, hoje mais de 80% das pessoas no mundo são alfabetizadas, e é estimado que 65% das crianças ao entrar na escola primária desempenharão funções que ainda não existem, ou seja, uma indicação límpida de que se faz necessário redirecionar os conhecimentos e o desenvolvimento das novas tecnologias para que tenhamos a capacidade de impulsionar o mundo do trabalho no futuro.
Mas, apesar dos ajustes necessários, é sabido que somos privilegiados por viver em uma era em que a ciência, embora aviltada pela autoridade máxima do país, e a tecnologia nos podem assistir, tornando as nossas vidas mais fáceis e fazendo-nos repensar as maneiras de desempenhar as nossas funções diárias. Mas é aí que nos deparamos com a pergunta que não quer calar. Será que toda a tecnologia trará benefícios ao futuro da humanidade?
Os anos de 2020 e 2021 tem nos mostrado o ritmo frenético que as novas tecnologias nos impõem, há uma quantidade nunca vista de inovação em um curto intervalo de tempo, como resposta à situação de saúde pública vivenciada em nosso país e no mundo. Mas aplicar a tecnologia para o bem da humanidade apenas se integrará a inteligência humana e às máquinas, com uma intenção clara de servir e chegar a grandes frações da humanidade, para um bem coletivo.
Desta forma é necessário saber que, ao ritmo das inovações atuais, nem toda a tecnologia é criada para o benefício da humanidade. O que torna este período da história diferente é que estamos falando de avanço tecnológico: a tendência humana continua a ser pensada de forma linear – quando projetamos as expectativas para daqui dez anos, comparamos com as diferenças verificadas nos últimos cinco anos.
E com a tecnologia a avançar de maneira exponencial serão as sociedades, as leis e os sistemas políticos que terão de se adaptar, para se certificarem que o investimento é guiado para aquelas que verdadeiramente ajudam a humanidade.
No entanto, perante um vasto oceano de possibilidades, quais são então as tecnologias com uma promessa de um futuro mais humano?
⦁ Energias de fontes renováveis
A cerca de 30 anos o preço das células solares era 99,5% mais caras, graças a avanços tecnológicos, a tecnologia deste setor está mais acessível. Em pouco tempo, esta energia será financeiramente mais benéfica do que os combustíveis fósseis, que infelizmente ainda compõe boa parte da nossa matriz energética.
As tentativas de combater as alterações climáticas apenas pela via de redução de consumo de energia não-renovável, não resultarão numa abordagem suficiente a longo prazo para colmatar este problema. A verdade é que apenas uma combinação de energias renováveis e limpas poderá ser a resposta eficiente em termos de custos, tanto monetários quanto ambientais, a este desafio.
⦁ Automatização e Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial (IA) tornará funções obsoletas, mas, “eliminar” empregos também permitirá a criação de novos e melhores empregos que substituirão os antigos. Neste e noutros campos, o papel da inteligência artificial será complementar o humano, ajudando-o nas tarefas mais desafiantes.
De forma adicional a IA pode ser aplicada a qualquer nicho, o que torna esta observância versátil e transversal. Isto facilita a criação ou implementação da tecnologia user-centric, o usuário no centro, tudo é como o usuário crê, age, vê e interage com o mundo. Como exemplo existem atualmente muitos companheiros de inteligência artificial que pretendem colmatar os desafios humanos, como por exemplo HARPY, SIRI e ALEXA.
⦁ Alimentos de alta performance
Como terceiro quesito e não menos importante estão os alimentos que são responsáveis pela nutrição populacional. Para dar conta de um crescimento populacional desmesurado, serão necessárias tecnologias alimentares, que procurem obter os alimentos mais nutritivos e sustentáveis para uma grande quantidade de pessoas.
Neste sentido, tanto as carnes de laboratório, como os alimentos geneticamente modificados e a agricultura vertical, trarão soluções para uma população futura, abundante e quiçá com algum espaço em condição de habitação.
Assim, como dizia Dostoievski, ser uma pessoa inteligente não é o suficiente para agir com inteligência, devemos, pois, saber identificar corretamente onde aplicar os nossos investimentos, a sociedade não só evoluirá como avançará com consciência e ética, unindo populações e eliminando divisões criadas pela falsa ideia de progresso.
Para isto é importante que os governos saibam investir nas tecnologias de futuro, que apoiem os cidadãos a longo prazo, a par daquelas que têm de ter investimento, como é caso de todo o investimento tecnológico feito para combater a pandemia.
Rafael Barros Forte Graduado em Engenharia de Petróleo e estudante de Direito. Atua como pesquisador da área de Direito Constitucional.
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