Tecnologia: AS CRIPTOMOEDAS E O PÂNICO DOS JOGADORES
- ocarcaranews
- 27 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Para iniciarmos esse assunto necessitamos nos lembrar de um aspecto básico do mercado financeiro. O que acontece quando a procura por um produto é maior do que a oferta? Os preços disparam, lei da oferta e da procura.
É justamente isso o que está acontecendo no mercado de PCs para jogos: a demanda elevada está fazendo as placas de vídeo ainda disponíveis no mercado, que já não eram baratas, custarem uma fortuna. Isso quer dizer que aumentou a quantidade de gente jogando. Não! Não é bem assim. O que está acontecendo é uma demanda na mineração de criptomoedas, que aumentou a procura por placas de vídeo, e inflacionou o mercado.

Ficou mais difícil você montar um PC gamer. Hoje de acordo com o mercado você vai ter que desembolsar muito dinheiro por uma placa de vídeo decente. Muito dinheiro mesmo: em muitos casos, o valor atual é o dobro ou o triplo do preço sugerido no lançamento da placa. Posso citar como exemplo a GTX 1650 GDDR6 que tinha o preço sugerido de R$ 929,00 em abril de 2019 e hoje nos sites de venda você não encontra por menos de R$ 2400,00. Preços duas ou três vezes mais altos
É óbvio que os preços podem oscilar para cima ou para baixo dependendo do dia, mas, de modo geral, a percepção é a de um aumento de preços sem precedentes que, como tal, tem obrigado jogadores a adiar o plano de montar um PC gamer ou atualizar a máquina atual.
Embora ao longo de 2021 o mercado tenha percebido uma desaceleração deste aumento, o assunto tem gerando discussões acaloradas no Reddit e em sites especializados. No meio dessa galera, é possível encontrar quem comprou placas de vídeo poderosas antes da elevação dos preços e as vende agora para conseguir um bom dinheiro com a hipervalorização — e estão conseguindo.
Vale ressaltar que esse não é um assunto novo. Em 2016, já havia jogadores se lamentando dos preços das placas de vídeo. Mas o problema ficou realmente preocupante em meados de 2018.
A mineração de criptomoedas é a culpada, mas o Bitcoin, por incrível que pareça, não é o vilão, pois já não é tão rentável minerar essa moeda. Quem insiste nessa tarefa geralmente usa ASICs (Application Specific Integrated Circuit), equipamentos que fazem mineração com controle mais eficiente do consumo de energia.
Na verdade, o grande vilão da história — mas não o único — é o Ethereum, por duas razões: essa é uma moeda digital que vem seguindo a tendência de valorização acelerada; ela é uma criptomoeda resistente ao sistema do ASICs, razão pela qual continua valendo a pena minerá-la com GPUs (Graphics Processing Unit).
Para piorar a situação da inflação desse item, quem recorre a placas de vídeo para mineração não compra uma ou duas unidades, mas inúmeras delas. É por isso que, na maioria das lojas especializadas, só placas de desempenho mediano ocupam as prateleiras.
As placas de vídeo ou GPUs ditas “parrudas”, quando disponíveis, são ofertadas no esquema “é pegar ou largar”, o que acaba dificultando a negociação final.
Eu vejo ainda que cautelosamente o PC gamer sob ameaça.
O maior problema, por assim dizer, é que ele não deve passar tão cedo. Simultaneamente, é difícil para a indústria aumentar a produção em tão pouco tempo ao ponto de dar conta de toda a demanda.
A consequência disso é que o mercado de PCs para games já está sendo impactado, de várias maneiras. Se o usuário adiar os planos de montar um desktop para jogar, ele também vai deixar de comprar processadores, memórias (os preços dos módulos DDR4 também têm aumentado, mas esse é outro assunto), SSDs, fontes de alimentação e por aí vai.
Para quem não pode ou simplesmente não quer esperar é difícil estimar quando as coisas irão normalizar, uma saída tem sido a de recorrer a laptops de marcas como Alienware (Dell). A razão é que fabricantes compram componentes em grandes volumes e, assim, conseguem preços mais realistas, embora isso não seja regra.
Outra estratégia muito empregada pelos jogadores tem sido a de simplesmente equipar as máquinas com placas medianas, mais fáceis de encontrar com preços “menos piores”. Obviamente que o desempenho vai ser afetado, mas, com os ajustes certos, dá para ter o mínimo de dignidade nas jogatinas.
No curto prazo, somente uma interferência direta da indústria e uma revitalização no modo como distribuidores ofertam ao mercado é que podem trazer algum conforto aos jogadores.
Com informações: Ars Technica, ExtremeTech.

Rafael Barros Forte
Graduado em Engenharia de Petróleo
e estudante de Direito. Atua como
pesquisador da área de Direito Constitucional.
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