Faz 410 anos – que Martim Soares Moreno preconizou a liberdade racial no Brasil – pois é plausível dizer historicamente que o seu ato foi pioneiro à época colonial – em 1611 – ao desembarcar no Rio Ceará mulheres negras e mamelucas com suas crianças na condição de livres para “fins de povoamento” – regalando dignidade e abolindo-as de trabalho escravo, das correntes e dos grilhões que foram submetidas desde o exílio forçado da África.
O termo “povoamento” descrito por Soares Moreno – foi a maneira encontrada para conceder tal condição de “seres livres” ao desembarcarem. Almejava constituir um contingente populacional junto ao Marco Zero. Na capitania do Ceará tudo fluía bem na convivência entre nativos, brancos com mulheres negras e mamelucas de tal modo que a miscigenação acontecia…
Aliás, o modus vivendi era singular – inclusive registrado em seu próprio diário. Moreno participava dos rituais da tribo de Jacauna, ao ponto de pintar as faces igualmente aos nativos, comia e bebia de tudo que ofereciam. Tinha amante nativa, que segundo José de Alencar que a denominou de Iracema, foi a criação do DNA cearense, quando deste relacionamento nasceu o filho Moacir.
O primeiro Capitão-Mor (1619) por vezes teve que justificar a sua governança fora dos padrões. De modo a ter que fazer algumas “adequações” para si proteger e seu povo. À Coroa informou da conversão cristã de Jacauna. E mais, deu conhecimento oficial que realizou “entre 10 ou 11 casamentos” de mulheres mestiças com seus soldados lusitanos. O batismo “combinado” com o cacique, era dar um sinal de paz com os gentios; e, o “casamento” significou em definitivo a liberdade das mulheres; visto que não haveria argumento ou maneira de retroceder para uma condição de subjugação escrava.
Martim Soares Moreno “o guerreiro branco” merece ser enaltecido pelo feito libertador e eternizado pela história brasileira como exemplo de gestor que promoveu o respeito e igualdade racial entre os povos. Primus inter pares que preconizou a abolição no Brasil, no que viria ser a “Terra da Luz”.
ADAUTO LEITÃO JÚNIOR
PROFESSOR E
HISTORIADOR
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