Abrindo nossa coluna Mente e Corpo, artigo da Psicóloga Masilvia Diniz.
“O ESTIGMA ASSOCIADO ÀS DOENÇAS MENTAIS NA SOCIEDADE BRASILEIRA”
Atravessamos um mar de incerteza, mesmo com o início ainda tímido da vacinação, e a principal delas ainda é: ‘quando a vida vai voltar ao normal?’. Muito provavelmente, eu como psicóloga responderia está pergunta com outra ‘é quando é que tivemos uma vida normal?’
Este é um convite a uma reflexão, a origem da palavra ‘normal’, vem do latim normalis e significa viver de acordo com a regra. Desde início da pandemia somos orientados a seguir uma nova lista de regras: distanciamento social, usar máscaras e limpar as mãos com álcool gel. Vemos inúmeros exemplos de pessoas que não seguem as regras, seja porque não há como evitar aglomerações ou por vontade própria desejam se aglomerar. Vou repetir a minha pergunta: quando é que tivemos uma vida normal?
Em meio a pandemia de Covid-19, mesmo com número de casos em alta, algumas pessoas pensam que estamos no fim e outros acreditam que nunca houve; o tema da redação do ENEM 2021 fora sobre saúde mental, mas especificamente sobre o estigma da saúde mental no Brasil.
Estamos em pleno Janeiro Branco, mês em que profissionais da área de saúde são convidados a trabalhar em prol da conscientização da saúde mental, porque estamos vivendo uma pandemia silenciosa de Depressão e o Brasil foi apontado no relatório de 2017 da Organização Mundial da Saúde com o país com o maior índice de diagnósticos de Ansiedade do mundo. Porém a maior guerra dos profissionais da área da saúde mental vivem neste país é vencer aquilo que mais distância os indivíduos do tratamento adequado: o estigma.
A origem da palavra estigma vem do latim stígma significa marca feita em brasa, portanto a questão primordial aqui é que a doença mental é tratada como uma sentença, algo que a define a pessoa, e não é bem assim. Tive várias oportunidades de acompanhar profissionais da Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo e é um dos relatos me marcaram fora as palavras de um pai, cuja a filha tinha um transtorno alimentar, dizendo que: “quando me dei conta que minha filha não é assim, mas se comporta assim porque tem uma doença, e eu enfim consegui ajudá-la.”
Depois de muitos anos estudando, ouvindo outros profissionais e atendendo, eu posso seguramente afirmar que a pior coisa que pode acontecer com uma pessoa e não saber o que se passa em sua mente. Inúmeras pesquisas em diversos países apontam que a doença mental não tratada se tornam cada vez mais intensas com o passar do tempo. Muitos de vocês que estão lendo este texto, podem imaginar que o diagnóstico é o fim do tratamento, quando na realidade, o diagnóstico não é mais importante, o importante é você aprender a viver a vida que vale a pena ser vivida apesar do diagnóstico.
Não podemos ignorar que vivemos num país de dimensões continentais, no qual o SUS não consegue penetrar em todas as regiões e não tem o contingente necessário para dar conta da demanda de saúde mental. Temos muitas pessoas das classes mais baixas, que independe da cidade que estejam neste momento estão desassistidas.
Existe muito a se fazer, mas se as pessoas que têm o acesso começarem a entender a importância e relevância de buscar ajuda profissional, possamos reivindicar que todos tem acesso, assim além de tratamento estamos proporcionando dignidade humana.
Eu não poderia terminar este texto sobre estigma de doença mental no Brasil, sem prestar minha humilde homenagem a uma das mais importantes profissionais da área de saúde que ajudaram a minimizar o estigma da doença mental no Brasil, a alagoense Dra. Nise da Silveira (1905/1999), uma biografia que virou filme e está disponível em várias plataformas digitais.
Uma vida dedicada a luta antimanicomial e manifestando-se totalmente contra aos tratamentos agressivos da época, ela ajudou pacientes saíram das suas ‘amarras’, implementou uma terapia com incentivando a expressão artísticas dos pacientes inaugurando assim o espaço do Museu do Inconsciente, que abriga as obras de arte.
Sobre estigma, deixo a frase da Dra. Nise que é uma inspiração: “o que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com a outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceito.”
Masilvia Diniz
Psicóloga Clínica
Terapia Cognitivo Comportamental
@psicomasilviadiniz
Atendimento on-line em todos país
Convido você a contribuir com esta coluna. Deixe seu comentário o que achou do tema, experiências que queira dividir ou até indicar quais temas devam ser abordados.
Excelente artigo! Parabéns!