“A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos." Arthur Schopenhauer
Onde quer que você olhe, seja nas redes sociais, nos sites da educação financeira, discussões nos bares, entre amigos nos aplicativos de troca de mensagens, criadores de conteúdo no Youtube ou nas páginas de notícias, o assunto predominante das últimas semanas foi o estrondoso sucesso da série original Netflix Round 6 (O jogo da Lula). Quando me propus a escrever sobre o tema, não poderia ser diferente, afinal uma psicóloga estuda fenômenos comportamentais, logo vem a pergunta: qual é a razão de tanto sucesso?
Então, resolvi escrever sobre o tema utilizando os nomes das brincadeiras que aparecem durante os jogos no seriado.
1. Batatinha Frita 1, 2, 3 – Temas universais.
Brincadeiras infantis são parte do desenvolvimento humano, pois são estes tipos de jogos que moldam a personalidade. Em geral, as brincadeiras têm semelhantes, apesar das diferentes culturais que temos em nosso planeta. A percepção do que é certo ou errado no comportamento humano e quais são as falhas de caráter cometidas pelos personagens são ilustradas de forma competente pelo diretor/roteirista. Apelação por ilustrar o mundo infantil, com uniformes escolares, cenários coloridos e regras claras algo que comunica de forma fácil. Assim como diferença entre relações de classes – ricos e pobres. Vivemos num mundo essencialmente capitalista, cuja oportunidades não são iguais a todos e o fracasso é visto como uma falha moral. Além do que está em jogo é o valor do dinheiro – falarei disso a frente.
2. Colmeia de Açúcar – Crianças, não é para vocês.
O objetivo dos temas universais era para ser de fácil entendimento para diversos públicos e vencer a barreira da língua. Porém, professores e psicólogos infantis estão apontando que as crianças e adolescentes estão assistindo o seriado, cujo a classificação indicativa é de 16 anos devido a cenas de violência explicita. As imagens com memes, filtros de aplicativo, figurinhas no WhatsApp e a facilidade de acesso ao aplicativo Netflix – que possui um serviço de filtro por idade – fizeram com que este público tivesse acesso ao conteúdo impróprio. Como é impossível “desver”, sugerimos conversar com as crianças para entender qual foi a percepção e como isto pode servir para abrir ao diálogo entre pais e filhos, e consequentemente com a sociedade.
“Não estou em nenhuma rede social, então nem pensei na possibilidade de crianças assistirem por essas mídias. Essa obra não é para elas. Estou perplexo que crianças estejam vendo.” Huang Dong-hyuk, o criador de Round 6
3. Cabo de Guerra - Que comecem os jogos
Na antiguidade temos inúmeros exemplos de jogos nos quais, quem sobrevivia era o homem mais forte ou o mais hábil. Seja no Coliseu, no qual o Senado Romano vinculava a política do “Pão e Circo” enquanto as batalhas sanguinolentas ocorriam eram distribuídos pão ao público. Seja Império Mesoamericano, o Pok-ta-Pok – com regras semelhantes ao futebol – no qual os perdedores eram sacrificados. Sempre tivemos jogos violentos, seja por opção de honra ou por falta de opção como a escravidão. Hoje temos os jogos, sem as regras violentas, mas a paixão por ver vencedores e perdedores ainda está entre nós.
4. Bolas de Gude -Violência explicita.
Existe um seguimento de filmes, livros e mangas (os gibis japoneses) e agora seriados que exploram a violência e os jogos por sobrevivência. Os criadores sabiam que este tipo de conteúdo tem um seu consumidor. Talvez, este seriado tenha alcançado proporções mundiais por três motivos: a pandemia – que aumentou o número de pessoas endividadas ou abaixo da linha da pobreza, o aumento do consumo de produtos advindos da Coreia do Sul, como filmes e música pop e a falta de liderança política – fenômeno mundial – que faz com que os valores e princípios éticos sejam questionados.
5. Ponte de Cristal – K-pop está entre nós.
A cultura Sul Coreana invadiu o Mundo. Seja pelo seu sucesso de crítica e público do filme “Parasita” – que explora a miséria humana e até que ponto as pessoas iriam para ter acesso a riqueza e dinheiro dos seus patrões. Este conceito de buscar a riqueza a todo custo tem um padrão. Todos veem o sucesso mundial de bandas de K-Pop como BTS ou Black Pink, mas não imaginam que existem fabricas de ídolos, que pegam as crianças de ambos os sexos, com 12 anos de idade e colocam em pequenos alojamentos, para que estas treinem de 14 a 16 horas por dia. Treinos intensos de dança, canto (inclusive em língua inglesa). Quando estão prontos são expostos em competições em programas de televisão para que as jovens (sul coreanas ou do mundo) começam a torcer e consumir músicas, memes, figurinhas, roupas e demais produtos. Os jovens que não alcançam o estrelado são devolvidos as suas famílias com enormes dívidas, em muitos casos acabam descontinuando suas vidas.
6. O Jogo da Lula – Topa tudo por dinheiro?
Qual é a função do dinheiro? Esta é uma pergunta de fácil resposta, o dinheiro é um meio para conseguir algo, seja um bem material, pagamento de um serviço ou qualidade de vida; um dos temas mais falados dos últimos tempos é a saúde financeira. Não faça dívidas que você não possa arcar é um mantra repedido nas redes sociais. A questão é quando o dinheiro é desvirtuado da sua função. Quando o valor humano é mensurado pela sua conta bancária ou pela sua capacidade de ostentar nas redes sociais. O fato é que o dinheiro é um meio, não um fim. Ter dinheiro é um facilitador, mas quando a sua vida se complica é necessário rever seus conceitos e valores. Talvez esta série faça proponha este tipo de reflexão, ou pelo menos deveria.
Psicóloga Masilvia Diniz
@psicomasilviadiniz
Clínica da Ansiedade e Depressão - CRP-06/89266
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