Mente & Corpo: A Desarmonização Facial
- ocarcaranews
- 20 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
A autoimagem é uma questão no Brasil, o país que realiza o maior número de cirurgias plásticas no mundo, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). De acordo com a pesquisa realizada pela ISAPS, em 2018 o Brasil fez mais de um milhão de cirurgias plásticas e 969 mil procedimentos estéticos não cirúrgicos.
A questão não é fazer o procedimento em si, mas saber o motivo e “os porquês” tantas pessoas desejam alterar partes do seu corpo e adequar-se ao padrão de beleza. A questão estética é antiga, e remonta a Grécia de acordo com Umberto Eco, no seu livro a História da Beleza. Ainda persiste a ideia debatida no livro do que é belo é bom. Será?
Alguns de vocês já passaram pela experiência (ou viram em algum filme ou seriado) aqueles espelhos que distorcem a imagem, as vezes as pessoas se veem pequenas ou grandes, finas ou largas, menores ou maiores do que realmente são. Para algumas pessoas é assim que se veem quando se olham no espelho, de uma forma distorcida.
A insatisfação constante faz com que queiram moldar-se conforme os padrões de beleza vigentes. Encontrei dois depoimentos feitos em 2020 que trazem o que acontece quando o resultado fica aquém do desejado.
O cantor Lucas Lucco conta que inicialmente seu desejo ao sentar-se na cadeira era diminuir as olheiras e foi convencido pela profissional a fazer o procedimento completo:
"Ela sugeriu me deixar mais com 'cara de bad boy', mais masculino, e colocar um pouco de colágeno para deixar o maxilar mais projetado.(...) Você se olha e simplesmente não consegue enxergar seus traços. Isso é muito ruim. Abala muito a nossa autoestima.”
A influencer Jessica Frozza relatou em suas redes o efeito indesejado depois do procedimento estético que ela concordou em fazer e não atribui responsabilidade aos profissionais:
“No primeiro ano você acha massa. Só que depois do primeiro ano, juro por Deus, meu rosto ganhou uma flacidez gigantesca. Caiu a minha cara, conheço minha cara. Fiquei caveirística. Por que ninguém me avisou?”
Cada vez mais as pessoas desejam se modificar e se transformar aos filtros que são utilizados nos aplicativos ou disponíveis no Tik Tok ou no Instagram. Substituindo os traços geneticamente herdados, por algo que se distancia do seu estereótipo.
Em vez de alcançar aquilo que dita a moda da harmonização, temos relatos cada vez mais frequentes que resultado é a desarmonização (caro leitor, tenho ciência que esta palavra não existe) e irreconhecíveis, não só para os outros, mas para si mesmo. Em entrevista ao site Viva bem Uol, o cirurgião dentista Fábio Bibancos, afirma que sua clínica vive financeiramente de consertar erros de procedimentos estéticos que “nem deveriam ter sido feitos”.
“Eu respondo dúvidas no meu canal do Youtube, e eu estava lendo um comentário que uma menina me perguntou ‘olá, eu tenho 12 e queria saber se eu já posso fazer um procedimento’...Eu não tó acreditando... Olha, a loucura que as redes sociais estão levando a gente... Eu entendo isto uma doença social.”
A sociedade impõem o padrão de beleza e os indivíduos passam a ser afetados psicologicamente. Quanto mais as pessoas passam tempo buscando pequenas imperfeições reais ou imaginarias podem estar desenvolvendo o transtorno dismórfico corporal (como descrito no Manual de Diagnósticos Psiquiátricos como DSM-V) no qual os indivíduos costumam examinar sua aparência no espelho com frequência, compará-la constantemente com a dos outros e evitar situações sociais ou fotos.
Como bem disse Bibancos, em outro ponto da entrevista, a questão é o olhar que a pessoa tem de si mesmo. A questão estética é comumente ligada a autoestima. Sendo que a correlação é quanto mais você cuida da aparência, mas autoestima tem. ‘Será isto mesmo Arnaldo?’ Vejamos a definição:
Autoestima (sf) sentimento de satisfação e contentamento pessoal que experimenta o indivíduo que conhece suas reais qualidades, habilidades e potencialidades positivas e que, portanto, está consciente de seu valor, sente-se seguro com seu modo de ser e confiante em seu desempenho.
‘Reais qualidades, habilidade e potencialidades’ são características de quem enxerga o que é capaz de fazer e ser e não do que que aparenta. Portanto autoestima é um olhar de validação para si mesmo, ao reconhecer seu próprio talento e sentir que é capaz de fazer o que se propõem fazer.
Sendo assim, eu deixo ao leitor um questionamento, será que o que é belo é bom, não seria melhor inverter este se questionar se o que é bom para você e o que te torna belo?

Psicóloga Masilvia Diniz
@psicomasilviadiniz
Clínica da Ansiedade e Depressão - CRP-06/89266
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“Minha cara caiu”, desabafa influencer após resultado negativo de bichectomia https://cultura.uol.com.br/entretenimento/noticias/2021/04/20/848_minha-cara-caiu-desabafa-influencer-apos-procedimento-de-bichectomia.html
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