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Laura Pigossi e Luisa Stefani conquistam a 1ª medalha olímpica da história do tênis brasileiro

Dupla brasileira leva o bronze após salvar quatro match points e virar sobre as russas Elena Vesnina e Veronika Kudermetova nos Jogos Olímpicos de Tóquio.



Não é exagero dizer que Laura Pigossi e Luisa Stefani entraram, na madrugada deste sábado, para o hall de tenistas mais importantes da história do Brasil.


Ao derrotar a dupla russa Veronika Kudermetova e Elena Vesnina na disputa pelo bronze dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 por 2 sets a 1, com parciais de 4/6, 6/4, 11/9, as duas se tornaram as primeiras tenistas brasileiras a conquistarem uma medalha olímpica. O bronze inédito coroa semanas que levaram Pigossi e Stefani do quase anonimato ao topo do tênis nacional ―e ao Olimpo mundial da modalidade.


Uma trajetória que começou com uma convocação inesperada a uma semana do início da Olimpíada, passou por vitórias surpreendentes e termina com um enorme lugar no pódio. O Brasil soma até este sábado oito medalhas: um ouro, três pratas e quatro bronzes.

Quem vê as duas com a medalha não imagina o quão atribulado foi o ingresso na competição. As duas são as melhores duplistas brasileiras do ranking mundial feminino, mas estavam longe da vaga olímpica. A classificação vai para as 31 melhores duplas.


No entanto, a pouco mais de uma semana de começar a Olimpíada, Eduardo Frick, gerente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), foi avisado pela Federação Internacional de Tênis (ITF) que havia sobrado uma vaga, e que o Brasil era o próximo da lista de espera. Frick as inscreveu e as duas embarcaram para o Japão em poucos dias. Stefani mora nos Estados Unidos e Pigossi mora em Barcelona. As duas paulistanas são amigas de infância, mas nunca haviam jogado juntas.


“Nunca deixamos de acreditar que podíamos. Quando recebi a ligação [da CBT], falei para a Luisa que as últimas seriam as primeiras. Ela riu, mas acreditou. Já tínhamos enfrentado todas as adversárias e sabíamos que era possível.


A derrota na semifinal foi muito dolorida, parecia que tinham enfiado uma faca no meu peito. Ainda bem que tivemos um dia para descansar. Tivemos um jogo difícil contra as russas. A Lu teve um ano incrível e queria dar isso para ela, joguei muito por ela, que está levando o tênis do Brasil para outro patamar”, disse Laura Pigossi, lembrando a convocação em cima da hora, em entrevista à TV Globo após a vitória.


Luisa Stefani tem 23 anos e começou a jogar tênis aos 10, no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo. Em 2011, se mudou com seus pais para a Flórida, nos Estados Unidos, onde deu sequência ao esporte no ensino médio e na universidade. Chegou a ficar em 10º lugar no ranking juvenil, mas passou a ser dividir o tênis com o curso de publicidade na universidade. Só em 2018 decidiu focar em um dos dois caminhos.


Quando comunicou aos pais que trancaria a faculdade para se dedicar ao profissionalismo no esporte, ouviu um “já sabíamos” de quem a incentivou desde criança. Stefani joga ao lado da norte-americana Hayley Carter no circuito. As duas já venceram torneios menores nos Estados Unidos e Uzbesquistão, além de chegarem às quartas de final do US Open —um dos quatro mais importantes da temporada. Ao lado de Carol Meligeni, foi bronze no Pan-Americano de Lima em 2019. Hoje a brasileira é a 23ª colocada no ranking mundial de duplas.


Laura Pigossi, 26 anos, cresceu e começou jogando na mesma São Paulo e também mudou de país. Em 2016, decidiu morar em Barcelona para se dedicar ao tênis. Desde então, alcançou seu melhor ranking nas duplas em fevereiro de 2020, quando era a 125º do mundo. Hoje está na 188º posição. Ao contrário de Stefani, Pigossi nunca conseguiu se destacar em um torneio de grande relevância, mas tem na carreira 12 títulos no circuito mundial. Ela joga ao lado da russa Evgeniya Levashova, atual número 553 do mundo.


As estatísticas da dupla não correspondem ao nível de um bronze olímpico, o que só evidencia o quão certo deu o entrosamento feito às pressas. Na primeira partida profissional da vida das duas juntas, elas derrubaram as canadenses Gabriela Dabrowski e Sharon Fichman, sétima melhor dupla ranqueada do torneio, por 2 a 0. Ainda venceram as favoritas tchecas Karolina Pliskova e Marketa Vondrousova por 2 a 1 e fizeram história nas quartas, quando passaram por Bethanie Mattek-Sands e Jessica Pegula (2 a 1).


O resultado já igualou o melhor desempenho do tênis brasileiro na Olimpíada. Em 1996, Fernando Meligeni chegou também nas semifinais, mas perdeu os dois jogos seguintes e terminou em quarto lugar.


Pigossi e Stefani precisavam de uma vitória para conseguir a inédita medalha. Ela quase veio na semifinal, contra as suíças Belinda Bencic e Viktorija Golubic, o que garantiria ao menos a prata ao Brasil.


As brasileiras chegaram a abrir 4 a 0 no primeiro set, mas levaram a virada e perderam por 7 a 5. No segundo, caíram por 6 a 3. “No momento estamos bem frustradas. É recente, mas vamos conversar com os técnicos para ver onde melhorar para que isso não aconteça de novo. Não dá para reclamar, lamentar, por tudo o que fizemos nesta semana”, prometeu Stefani, que não deixou de vislumbrar a chance de ganhar uma medalha.


A conversa deu certo e, na disputa que garantiu a medalha de bronze para a dupla, foram heroicas no esforço para virar o jogo contra as fortíssimas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina. “Ainda não caiu a ficha, mas estou muito feliz por jogar minha primeira Olimpíada e conseguir medalha. Jogar ao lado da Lu e representar o Brasil me emociona muito.


Ainda não sei o que estou sentindo”, comemorou emocionada Laura Pigossi. Pigossi e Stefani saíram do quase anonimato para conseguir algo que ídolos como Guga, Maria Esther Bueno e Marcelo Melo nunca conseguiram. Um bronze épico para uma dupla improvisada de última hora que, apesar de ainda ter muito para crescer na carreira, já deixou suas marcas nas quadras olímpicas.


Fonte ElPaís

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