Quantidade de jogos e falta de descanso podem aumentar risco de lesão e encurtar carreira dos futebolistas.
Pouco depois de sua transferência do Sporting para o Manchester United, ficou claro que Bruno Fernandes era o jogador mais influente do clube na Premier League.
Num novo estudo sobre burnout de jogadores divulgado pelo sindicato de jogadores FIFPro, que representa mais de 65 mil futebolistas em todo o mundo, constatou que a estrela portuguesa – que também faz parte integrante da sua seleção nacional – “tornou-se um dos jogadores mais usados no futebol mundial”.
Até o técnico do United, Ole Gunnar Solskjaer, admitiu em uma entrevista à ESPN que talvez tenha “gasto” Fernandes – que jogou 58 vezes pelo United quando terminou em segundo na Premier League e chegou à final da Liga Europa na temporada passada –, mas insistiu que era porque ele era “muito importante para nós”.
Esta temporada não parece ser diferente e com o United competindo em três competições, juntamente com os compromissos de Fernandes nas eliminatórias para o Mundial por Portugal, uma estimativa conservadora pode levar o jogador de 27 anos a participar em 60 partidas.
Mas isso está longe de ser uma questão exclusiva de Fernandes e do United.
O cronograma extenuante do calendário do futebol e os efeitos físicos e mentais que ele impõe aos jogadores têm sido assunto de muita discussão há vários anos.
É um problema que só foi agravado pela pandemia da Covid-19, à medida que ligas em todo o mundo lutavam para completar temporadas truncadas antes de começar a campanha seguinte quase imediatamente.
Adicione à equação o atual calendário internacional – que está vendo confederações lotando mais partidas do que nunca devido aos cancelamentos de jogos durante a pandemia – e os jogadores no topo do esporte agora estão experimentando o pior congestionamento de calendário de suas carreiras.
‘Uma quantidade obscena de jogos’
Não é apenas jogar durante uma quantidade enorme de minutos todas as semanas que está afetando os craques do futebol. São também os longos voos internacionais em vários fusos horários, um problema particular para quem viaja da Europa para a América do Sul e Ásia para obrigações internacionais.
A partir de 2024, o futebol precisará de um novo calendário à medida que o formato atual expira. No entanto, em vez de reduzir o número de jogos para evitar que os jogadores se esgotem, as propostas atuais fariam os jogadores de futebol potencialmente jogarem mais partidas, tanto nos clubes quanto em competições internacionais.
Isso se deve ao formato expandido da Liga dos Campeões promovido pela UEFA, órgão que tutela o futebol europeu, que resultaria em 100 partidas extras por temporada, e aos planos apresentados pela FIFA, órgão governante do futebol mundial, de sediar uma Copa do Mundo a cada dois anos, em vez de quatro.
Darren Burgess, um treinador que já trabalhou no Liverpool e no Arsenal, relembra seu tempo com os gunners ao tentar gerenciar a carga de trabalho dos jogadores.
“Certamente em minha função, mais recentemente no Arsenal, onde chegamos à semifinal da Liga Europa e depois à final da Liga Europa em anos consecutivos, incluindo uma final da Carling Cup, jogamos uma quantidade obscena de jogos”, disse Burgess.
Embora a UEFA e a Associação Europeia de Clubes (ECA) tenham criticado a FIFA pelos seus planos, a própria UEFA foi criticada por dirigentes das maiores ligas europeias devido às suas próprias propostas.
A FIFPro diz que os órgãos dirigentes do futebol precisam ter uma visão mais ampla quando se trata de esgotamento de jogadores.
“O que eu acho muito interessante…é que nossos argumentos são sempre trazidos à mesa por outros interessados quando alguém faz uma proposta”, disse o secretário-geral da FIFPro, Jonas Baer Hoffmann.
“Então, quando querem mais jogos da Champions League, de repente, ‘os jogadores estão jogando demais’, dizem as ligas e diz a FIFA. Se você quiser uma segunda Copa do Mundo, ‘os jogadores também estão jogando muito ‘, diz a UEFA.
“Agora, eu acho que em algum ponto, se você responsabilizá-los por este argumento, eles serão obrigados a usar isso contra si mesmos também.”
O ex-técnico do Arsenal, Arsene Wenger, que tem sido uma das principais vozes da FIFA no esforço por uma Copa do Mundo bienal, já havia insistido que estão “muito conscientes” sobre não aumentar o número de partidas para os jogadores.
“O que é importante para mim são jogos mais significativos”, disse ele recentemente, ao descrever sua proposta “Futebol para o amanhã”.
“Queremos dar aos fãs o que eles exigem hoje, e isso é jogos significativos. Queremos responder a essa expectativa. Temos 20% de futebol de seleções e 80% de futebol de clubes e queremos manter esse equilíbrio, mas queremos apenas reorganizá-lo de uma forma mais eficiente”.
“Isso significa reagrupar e reduzir as eliminatórias no futebol de seleções nacionais, criando períodos mais longos para os jogadores permanecerem em seus clubes e estabelecer um período de descanso garantido para os jogadores todos os anos”, disse.
‘Simplesmente insustentável’
Baer-Hoffmann falava em uma mesa redonda organizada pela FIFPro, na qual o sindicato propôs um novo plano que faria os jogadores fazerem pausas obrigatórias planejadas durante a temporada para proteger sua saúde física e mental.
A proposta vem de um relatório da FIFPro que, segundo o sindicato, mostra que os jogadores de futebol estão atualmente jogando um número alarmante de partidas no que chama de “zona crítica” – jogando pelo menos 45 minutos em partidas que têm menos de cinco dias de descanso entre eles.
A FIFPro diz que jogar um número excessivo de minutos nesta zona crítica pode aumentar muito as chances de um jogador se lesionar e até encurtar sua carreira.
Fonte CNN BRASIL
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