Atenção: Este é um texto traz conteúdo com sexo e violência. Sistema de Classificação Indicativa Brasileiro: Não é recomendado para menores de 16 (dezesseis) anos.
Homem oriental, trinta e poucos anos, empresário bem-sucedido e herdeiro de família tradicional brasileira, contrata os serviços de uma garota de programa para lhe fazer companhia. Durante estes encontros, ambos descobrem que tem muito em comum: estilo de vida, o gosto por viajar, roupas e acessórios de luxo, caçar animais para consumo próprio e beber vinhos caros. Ele propõem bancar seus custos provisoriamente e lhe dá um carro de luxo blindado. Alguns anos depois, se casam numa elegante festa e vão morar num apartamento de luxo quadriplex no bairro nobre de São Paulo e... Diferente dos filmes de Hollywood, Elize e Marcos Matsunaga não viveram felizes para sempre.
“A diferença entre a verdade e a ficção é que a ficção faz mais sentido.” Mark Twain
O documentário Elize Mastunaga – Era uma vez um crime, Netflix (Jul/2021), traz de forma competente um recorte sobre um dos crimes que mais chocou nosso país. O que é inédito neste documentário é o contundente relato da Elize sobre o que aconteceu antes, durante e depois de ter cometido o assassinato do seu marido. Por motivos óbvios o documentário não mostra as imagens chocantes, há conteúdo suficiente o espectador chegar as suas conclusões.
Passados quase dez anos do crime e os inúmeros vídeos disponíveis no Youtube, prosseguir sem spoilers. Ao assistir o documentário, analisei por três pontos de vista. São estes:
A família Matsunaga (que estava preste a fechar um negócio bilionário com um empresa norte-americana para venda da Yoki) que suspeitando de um sequestro, contrata um dos maiores advogados do país Luiz Flávio D’Urso para acompanhar o caso,
Elize Matsunaga, que relata o ‘sumiço’ do marido aos familiares, funcionários da empresa, psicóloga da terapia de casal e do padre que era conselheiro do espiritual,
Repórter de programa investigativo policial Lucas Martins, que foi chamado para ir à cidade de Cotia, checar a denúncia de um morador da área rural que encontrou um saco azul com parte de um corpo humano de um homem oriental.
A família Matsunaga prefere se blindar e opta pelo silêncio. Dado é que eles que têm a guarda da filha do casal (em 2012 época dos fatos, tinha apenas um ano). A advogada que os representa no documentário apenas afirma que se a mãe desejasse proteger a filha jamais faria concordaria em fazer parte do documentário. Todos os relatos dos demais familiares ficam restritos aos depoimentos em tribunal a época. Uma das irmãs sobre juramento diz que Marcos era um cavalheiro, porém ao ser questionada pela promotoria afirma que jamais aceitaria uma traição.
Elize, de acordo com o autor Ullisses Campbell (que lançara no mês de agosto uma biografia não-autorizada sobre ela), contratou um detetive particular por orientação de uma advogada e estava juntando provas para um possível divórcio que nunca aconteceu.
As imagens gravadas flagraram Marcos com sua nova amante, ex-garota de programa, que estava morando a suas custas há alguns anos num apartamento e usando de carro blindado comprado por ele. Assim como ele havia feito com a própria Elize anos antes, enquanto ainda vivia num relacionamento com outra mulher e mãe de sua primeira filha.
Ulisses, afirma em entrevista recente ao programa Pânico na Jovem Pan que: “Elize e Marcos eram feitos um para o outro e é impossível que esta história não tivesse um final trágico para um ou para o outro”.
O documentário é uma peça produzida com apoio da jornalista investigativa Thais Nunes (que acompanha o Caso Yoki desde 2012) e pelos advogados de defesa da Elize, Luciano Santoro e Roselle Soglioda. Sendo está a oportunidade de Elize contar a história pela sua perspectiva e fazer com que sua filha tenha acesso a sua versão dos fatos. Algumas partes podem gerar o desconforto, principalmente quando ela relata sobre sua predileção pelas armas de sua coleção e a descrição com detalhes dos seus hábitos de caça e desmembramento do animal para consumo do casal.
O que leva uma pessoa chegar as vias de fato de puxar o gatilho e ter aquilo que o documentário chamou de “infeliz ideia” sobre o desmembramento e desova do corpo ainda é um enigma, pois de acordo com própria, “existem partes desta história que eu só conto para minha filha”.
Elize já fora submetida a várias avaliações psicológicas que oras atestam e oras refutam sua psicopatia. Ainda cumpre prisão pela pena de 19 anos e batalha na justiça por reaver a guarda da sua filha. Parece que ainda teremos notícia de Elize por um longo tempo.
O terceiro ponto foi deixado estrategicamente para o final do texto, leitor, porque em si é uma questão que me levou a escrever o texto: o jornalismo investigativo policial. Temos uma tradição que remonta histórias dos tempos do Rádio Nacional nos anos 1950.
Não se trata de minimizar crimes, mas do circo midiático que se forma entorno de cada chamada de programa, tenta enfatizar informações que “prometem” traçar o perfil perverso do criminoso. Porém, na grande maioria das vezes acaba por expor informações que oras corroboram com os promotores, ora com os advogados de defesa. Tanto é assim que em dado momento, os advogados usam repórter prestigiado para revelar detalhes sórdidos que são utilizados na defesa da ré confessa.
Gostaria de saber a opinião de nossos ilustres juristas e colaboradores do Carcará sobre a questão de ‘jogar com a opinião pública’.
Fato é que se existe oferta e porque a existe a procura. Por isto, seremos imundados novos documentários de crimes reais daqui em diante, cujo pontapé inicial foi com “Caso Evandro” – Globoplay (jul,2021).
Neste caso, o despreparo dos profissionais em casos de rapto de crianças nos anos 1990, interesses políticos, personagens com conflito de interesse, circo midiático, intolerância religiosa, resquício de tortura da época da Ditatura, levaram a prisão de sete pessoas inocentes.
Por duas décadas, estas pessoas tentavam sem sucesso comprovar sua inocência. Fora necessária a dedicação do jornalista Ivan Mizanzuk, que estava interessado em esclarecer os fatos e produz seu podcast o “Projeto Humanos” (disponível em todas as plataformas). Sua obsessão com os detalhes, fez com que ele tivesse acesso ao processo e provas que jogam luz sobre o caso das Bruxas de Guaratiba.
Temos muito a apreender com estas histórias. Revisitar processos, ajustar leis e rever questões de opinião pública, enfatizar jornalistas tentam minimizar as questões de imparcialidade e com isto, buscar formas de evitar sofrimento humano.
Psicóloga Masilvia Diniz
@psicomasilviadiniz
Clínica da Ansiedade e Depressão - CRP-06/89266
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